Estados Gerais - Transformar o SNS - António Pinho in Jornal de Notícias
Os Jovens e o Futuro da Saúde: Luzes… Câmara… Disrupção.
O Serviço Nacional de Saúde, criado em 1979, consagra-se como um dos maiores tesouros nacionais. Norteado pelo ideal de um acesso universal e equitativo para todos os cidadãos, representa uma das nossas maiores expressões de democracia, salvaguardando valores essenciais como a igualdade e a dignidade humana.
Charles Darwin disse que aquele que sobrevive não é o mais inteligente ou o mais forte, mas quem se adapta melhor à mudança. A Saúde não é diferente, pelo que a natural progressão temporal vem acompanhada de modificações no seu paradigma. A tecnologia evolui, a demografia varia, o próprio perfil dos profissionais sofre alterações. A constante mudança urge, assim, um acompanhamento de reformas significativas.
Luzes
Mas, para tratar, é preciso, antes, diagnosticar. Um diagnóstico, por sua vez, deve ser iniciado com uma perspetiva abrangente. Não é novidade que existe uma panóplia de áreas que devem ser revistas e um conjunto de agentes que podem contribuir para a evolução. Perante um projeto transformativo, num sistema complexo como a Saúde, torna-se indispensável reunir as opiniões e necessidades dos profissionais e utentes. Neste cenário, destaca-se um elemento em particular: os jovens. Aqueles que tomarão as rédeas da Saúde em Portugal apresentam-se como uma oportunidade de antecipar os problemas do futuro, permitindo um SNS coerente e atualizado. Com bandeiras como o planeamento dos Recursos Humanos ou a articulação entre diferentes entidades prestadoras de cuidados, vários são os exemplos de tomadas de posição de Associações Juvenis, que desafiam mudar os complexos ecossistemas de Saúde. Estas propostas não devem ser ignoradas, ou cairemos no erro de perpetuar as dificuldades do presente, que crescerão para ser os obstáculos do futuro.
Câmara
Para se fazer ouvir, um coro de vozes precisa de um palco. De nada nos adiantará elencar os principais problemas que atingem o SNS se não tivermos a possibilidade de os projetar em ideias estruturadas. Devem ser realizadas pontes entre aqueles que estão na frente de combate e os policy makers, numa perspetiva de uma Saúde de proximidade, que responda de forma eficiente e eficaz, segundo o propósito que o próprio SNS serve. É necessário dar destaque às problemáticas levantadas e pensar em reestruturações específicas, com uma distribuição de recursos que dê resposta ao maior número possível de pessoas. Por fim, não esquecer que muitos projetos que ficam pelo meio, seja pela transitoriedade de ideologias políticas, por conflitos de interesses ou por simples inação, podem renascer com um novo sopro de vida. Devemos contar com as gerações vindouras para o desenvolvimento de novas soluções, o aperfeiçoamento de antigas propostas e para trazer inovação a discussões que tão marcadamente precisam de novos pontos de vista. A participação juvenil deve ser um dos eixos principais no desenvolvimento estratégico do SNS. Está na hora de virar a câmara para estes novos agentes da transformação e vê-los como parceiros. E de nós, jovens, aceitarmos o desafio.
Disrupção
Conhecidos pela sua abertura e espírito irreverente, temos na camada mais jovem os sujeitos perfeitos para liderarem a mudança. Uma geração que edifica o perfil do futuro profissional de saúde, com todas as suas expectativas e sonhos. Jovens que cresceram numa simbiose com a tecnologia e conscientes do seu potencial. Estão cada vez mais cientes das adversidades que têm de contornar. Querem responder com novas soluções, que contemplem as lutas sociais e os benefícios que advêm da integração de cuidados e da centralidade dos mesmos no cidadão. E, no entanto, apesar desta intenção, têm que lutar simultaneamente com um mundo que não corresponde aos seus ideais e com uma agenda própria cada vez mais difícil de alcançar.
Assim, impulsionados por uma força de vontade vincada e pelos desafios referidos, tão profundos, surge a necessidade de fazermos parte da frente de batalha. Por um SNS mais competitivo, atrativo, moderno e adequado aos nossos valores: os da sustentabilidade social, ambiental e de modelos atuais de governance. Por um sistema de Saúde que nos permita tornar nos profissionais que ambicionamos ser. Não deixemos este capítulo na História da Saúde fugir-nos, nem deixemos páginas por escrever.
A 11 de Fevereiro realizar-se-á a conferência "Estados Gerais sobre Saúde - Salvaguardar e Transformar o SNS", no Salão Nobre do Complexo ICBAS/FFUP. Esta conferência pretende reunir organizações, quer profissionais, quer científicas, associações de cuidadores, de doentes e muitas outras entidades com reflexões prementes sobre o futuro da saúde.
Apresenta-se, assim, como o palco através do qual exemplos efetivos de linhas de ação, sugestões e propostas poderão ter o destaque merecido. Na perspetiva de inclusão das novas gerações, como referido, permitirá trazer os jovens à discussão, através de representantes das várias associações de estudantes e de um programa que conta com espaços interventivos. Uma verdadeira plataforma, destinada a dar voz aos que a pretendam usar.
Convidamos à presença de todos neste evento. Programa e as inscrições encontram-se no seguinte link.
Luzes... Câmara... Disrupção.
*Estudante de Medicina do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar
Membro da Comissão Organizadora Local da 1ª Sessão dos Estados Gerais