Na sequência da primeira conferência dos Estados Gerais - Transformar o SNS, a Fundação para a Saúde - FSNS e o Jornal de Notícias irão publicar algumas das comunicações em versão de artigo.

O Professor Manuel Sobrinho Simões reflete Investigação, conhecimento e gestão da mudança na Transformação do SNS.

 Na sequência da primeira conferência dos Estados Gerais - Transformar o SNS, a Fundação para a Saúde - FSNS e o Jornal de Notícias irão publicar algumas das comunicações em versão de artigo.

Hoje o Professor Manuel Sobrinho Simões reflete Investigação, conhecimento e gestão da mudança na Transformação do SNS.
 
sobrinho simoes
 

Estados Gerais da Saúde

Transformar o SNS – Gestão da Mudança

Investigação, conhecimento e gestão da mudança

Penso que foi uma boa ideia começar a Gestão da Mudança com o objectivo de Transformar o SNS através da aposta na melhoria da Investigação e do Conhecimento. Esta opção inicial pelo tandem investigação/conhecimento faz sentido que preceda a apresentação e a discussão da gestão da mudança em termos de pessoas, empresas e autarquias. Penso que faz igualmente sentido procurar identificar, nesta altura, um par de "pontos" susceptíveis de ajudar a transformação do SNS no âmbito de uma intervenção necessariamente limitada. Como achamos que o SNS foi uma história notabilíssima do desenvolvimento português, e queremos que a qualidade (e a "quantidade") de conhecimento sejam estruturantes do futuro "SNS transformado", não devemos pensar em termos do fluxo clássico "Informação-Conhecimento-Sabedoria" e sim adoptar o modelo "Informação-Conhecimento-Saber fazer e Fazer tão bem quanto possível".

Seguindo esta opção é importante valorizar a Investigação através das perguntas "Como" e "Para quê", em detrimento do "Porquê". A investigação está intimamente ligada ao conhecimento desde a aprendizagem das diversas profissões até a sua concretização na vida real através, primeiro, do treino dos profissionais - um médico, ou um enfermeiro, ou... é muito mais do que um diplomado por uma escola - e, depois, através da formação continuada. Para garantir o SNS sustentável - agora e, sobretudo, daqui a alguns anos - é preciso, antes de mais, mudar a Organização do Ensino das Ciências da Saúde e as respectivas instituições. Entre outras medidas de natureza logística e pedagógica, sinto a necessidade de garantir tempo protegido aos docentes que são também profissionais para a realização de investigação, ensino dos alunos e treino após-a-graduação (no caso da medicina, o treino faz parte integral da formação de médicos).

No domínio da investigação do futuro SNS existem, entre outras dimensões de natureza cientifica pura e-dura e medidas associadas à investigação aplicada e à inovação científica, há uma decisão que me atrevo a considerar a "medida por excelência": implementar, finalmente, o Processo Único de Saúde/Doença dos Cidadãos. Por outras palavras, penso que é fundamental para o SNS, assim como para todo o Sistema de Saúde e para a sociedade portuguesa em geral, avançar no desenho de "Normas, modelos e boas práticas para o desenvolvimento e implementação do Registo de Saúde Electrónico". Esta decisão potenciará sinergicamente a assistência e a investigação, além de ser fundamental para a economia e o bem-estar da sociedade graças ao desenvolvimento paralelo da melhoria de qualidade e o combate ao desperdício.

Com a pressão criada pela acumulação excessiva de caracteres neste texto, limitar-me-ei a apontar um terceiro elemento crucial para a investigação e conhecimento no SNS transformado - (Re) implementar uma política de recrutamento, estimular, valorizar e recompensar os profissionais de saúde. Um parêntesis para realçar a importância da literacia (e responsabilidade) dos cidadãos na saúde e bem estar, além das actividades profissionais específicas. Regressamos, assim, à ideia que a "assistência", desde a clínica mais ou menos "de ponta", até aos cuidados menos badalados, passa pelo exemplo que os profissionais puderem dar, seja no âmbito das carreiras respectivas, seja através da sua harmónica integração em instituições de características muito diferentes articuladas em rede, quer seja, finalmente, pela competência (atenção à importância da competência) e pelo exemplo de saber comunicar, colaborar e confiar. Se conseguirmos que os profissionais de saúde voltem a sentir orgulho nas suas profissões estaremos a ajudar na mudança.

Porto, 6 de Fevereiro de 2023

*Médico Patologista e investigador